Centro Loyola de Fé

Semana Santa Orante (Quinta-feira)

QUINTA-FEIRA DA SEMANA SANTA

Lava-pés: para uma “Igreja da toalha”

+ Prepare sua oração, ativando uma disposição interna para viver o Mistério do Lava-pés.
– Dê especial atenção às “adições”: lugar, posição corporal, pacificação interior, consciência de estar diante de Deus…
+ Faça sua costumeira oração preparatória, bem como a composição vendo o lugar, a petição da graça…
+ Mobilize seus sentidos para que eles o ajudem a fazer uma contemplação; os “pontos para a oração”, indicados abaixo, podem preparar o terreno interior para acolher o gesto ousado de Jesus no Lava-pés:

– O gesto do “lava-pés” é exemplar para todo(a) seguidor(a) de Jesus Cristo; constitui um dos gestos mais expressivos da missão e da identidade para aqueles que exercem algum serviço em sua comuni-dade. É revelação e ensinamento. É amor e mandamento. É gesto-vida, gesto-horizonte, gesto-luz…
A cena do lava-pés revela profundidade e delicadeza, mútuo dom e acolhimento, comunhão e pressentimento. É um gesto profético, repleto de generosidade e de humildade.
Jesus deixa transbordar os segredos de seu coração. Ele revela o rosto de Deus, que é Amor.
Não se pode amar alguém e olhá-lo de cima. Não se trata também de se “humilhar”, de se colocar “abaixo” de seus pés, mas de cuidar de seus pés para que esse alguém possa se manter de pé, para que ambos possam estar face a face e caminhar juntos.

– Jesus sabia que seus discípulos tinham pés frágeis, pés de argila. Amar alguém não é querer que ele fique deitado a seus pés, mas é querer que ele se mantenha de pé, na plenitude de sua grandeza. Amar alguém é querê-lo com os pés “livres, leves e soltos”. Lavar os pés é gesto de humanização e gesto humanizante. É devolver ao outro a dignidade e capacidade de dar destino à sua vida.
Jesus está no meio das pessoas como Aquele que serve; por isso “despoja-se do manto” (sinal de dignidade do “senhor”) e pega o avental (toalha, “ferramenta” do servo). É o Senhor que se torna “servo”. O amor-serviço tem como primeiro símbolo o avental.
“Despojar-se do manto” significa “dar a vida” sob a forma de serviço.
Jesus coloca toda a sua pessoa aos pés dos seus discípulos. O Criador põe-se aos pés da criatura para revelar como ela é amada e como deve amar.
A cena é fortemente simbólica: Jesus continua sendo sempre aquele que serve.

A partir de então, o lava-pés passa a ser o “modo de proceder” ou o “estilo de vida” da comunidade dos seus seguidores.
“Tal Cristo, tal cristão”: na vivência do serviço evangélico, somos chamados a vestir o “avental de Jesus”. “Vestir o coração” com o avental da simplicidade, da ternura acolhedora, da escuta compro-metida, da presença atenciosa, do serviço desinteressado…
“Tirar o manto” é a atitude firme de quem se dispõe a “arrancar” tudo aquilo que impede a agilidade e a prontidão no serviço (nossa redoma, nossa máscara, nossa capa de proteção); é mover-nos, despojado, em direção ao outro; é optar pela solidariedade e a partilha; é renovar a vontade de “incluir” o outro no nosso próprio projeto de vida.

– Precisamos “levantar-nos da mesa” cotidianamente. Há sempre um lar que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado…
Sempre teremos “pés” para lavar, mãos estendidas para acolher, irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem enfrentadas com coragem…
Sempre teremos, também, a necessidade de nos “sentar à mesa” para renovarmos as forças e redo-brarmos a coragem de nos levantar e, na humildade, sem manto, servir com amor, do jeito de Jesus.
“Levantar-nos da mesa” – “sentar-nos à mesa”: movimento de partida e de chegada; prolongamento do gesto provocativo e escandaloso de Jesus.

+ Na contemplação do Lava-pés (Jo 13,1-17), observe silenciosamente os gestos de Jesus, pois todos eles possuem uma sacralidade própria, uma reverência, uma paz e calma especial. Não há pressa, não há agressividade, não há nada que possa dar a mínima aparência de algo que fosse obrigado.
+ “Levantou-se da mesa”: gesto que nos revela que não se pode servir permanecendo no comodismo. O gesto de levantar denota que há algo por ser feito.
+ “Ficar de pé” é posição que expressa prontidão para servir; para isso é preciso deslocar-se do próprio “lugar” e descer até o “lugar” do outro. É desinstalar-se do próprio bem-estar, é dinamismo. “Estar à mesa” é sempre sinal de fraternidade, de comunhão, mas é necessário saber levantar-se na hora certa para poder servir com amor.
+“Tirou o manto”: Ele mesmo se despoja. Abrir mão do manto é uma iniciativa livre e soberana, que nasce de seu próprio interior. O manto impede a liberdade de movimentos, não permite fazer o serviço com facilidade. Há “mantos” que são sinais de poder.
O Senhor assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca o manto pela toalha-avental: este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas entre a religião antes e depois de Jesus Cristo. Não há serviço sem se despir de todas as aparências de poder, de força, de prestígio.
+“Colocou água numa bacia…” Jesus assume os preparativos, não faz trabalho pela metade. A água derramada não é feita com violência, nem com força, mas com extrema delicadeza, com atenção e amor.
+ “…e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha”.
Jesus inclina-se aos pés dos seus discípulos, até o chão, com reverência, cuidado, acolhida, sem fazer distinção de ninguém. Lava os pés de todos igualmente.
+ “Depois… voltou à mesa…” Jesus volta ao lugar em que estava antes, mas volta diferente. Ele repõe o manto, mas não depõe a toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que caracteriza o novo modo de ser, que é próprio dos cristãos.
– Depois de contemplar com “todo acatamento” os gestos de Jesus, converse com Ele sobre a sua admiração e sobre o seu desejo de prolongar estes mesmos gestos no seu cotidiano.
Traga à memória as pessoas que você precisa lavar os pés…
– Revele sua gratidão para esta experiência tão íntima e tão intensa.
– Registre no seu caderno as “moções” mais fortes experimentadas na oração.

Pe. Adroaldo Palaoro, SJ

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