Reconhecimento das próprias fragilidades e amor a Nossa Senhora
“Inácio cavalgava uma mula. Um dos seus irmãos quis ir com ele até Oñate. Pelo caminho, Inácio o persuadiu a fazer uma vigília em Nossa Senhora de Aránzazu.”.
(Escrito por Jonas Leandro Moreira Diego)
Um novo capítulo começa na vida de Inácio. Os movimentos interiores experimentados no leito de convalescença o colocam em marcha. A contragosto de sua família, Inácio se põe a caminho, cavalgando uma mula. Já não vislumbra sua vida na segurança de um castelo. Está ávido por uma nova aventura. Aliás, assim se caracteriza a vida cristã: caminhada, peregrinação, pés em marcha, olhos voltados para o novo horizonte.
Inácio caminha para longe de sua casa, bem como empreende um bonito itinerário para dentro de si mesmo. Atitude que exige coragem, convicção e vontade firme. Sua peregrinação mais importante é justamente essa, a que faz pelos rincões de seu próprio ser. Pois, não há destino seguro que não passe primeiro pelo interior de si mesmo. Aqui, brota uma jornada de conversão, processo que vai se desencadeando em direção ao interior onde é possível olhar e reconhecer a presença de luzes e sombras. Esse movimento ajuda a fazer contato com as fragilidades, argila que Deus deseja trabalhar continuamente para fazer obra nova.
Como barro nas mãos do oleiro
Eis uma descoberta que é capital para inserir-nos na dinâmica relacional com Deus: a consciência da beleza de ser argila. “Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.” (II Cor 4, 7). Surpreende-nos e transforma-nos a constatação de que Deus nos ama, não apesar dos nossos pecados, mas, justamente por causa de nossa condição de vulneráveis e falíveis. Portanto, é libertador cair na conta de que, formados de argila, podemos estar, se assim desejarmos, à mercê do trabalho criativo, vivificante e restaurador das mãos do Pai. Bendita vulnerabilidade que nos coloca em atitude de despojamento e abertura ao Criador.
Vivendo o Ano Inaciano na perspectiva do caminho empreendido por Inácio, somos convidados a revisitar o próprio caminho, identificando-nos com cada passo dado pelo peregrino que seguia forjando sua jornada de busca do “eu” mais original e profundo. Essa jornada passa pelo reconhecimento das próprias fragilidades, experiência que favorece o aprofundamento espiritual uma vez que permite reconhecer-nos necessitados de Deus e mais sensíveis e atentos às limitações dos demais.
Caminheiros como Inácio, precisamos de energia, disposição e vitalidade para bem percorrermos a jornada. Consciente disso, Inácio não hesitou em recorrer à Virgem, na pequena ermida de Aránzazu. Orando por toda a noite, súplica “novas forças para seu caminho”.
Inácio, disposto à ruptura com o estilo de vida anterior, pede auxílio e proteção a Nossa Senhora. Seu coração devoto, confia na oração da Mãe de Deus, como é próprio dos corações simples que, entendem facilmente como a oração bondosa da mãe é capaz de tocar graciosamente o coração do filho. Maria é um ícone que sinaliza e inspira docilidade e abertura à ação do Espírito. Aproximar-se dela significa estar mais perto de Jesus, para quem permanentemente ela aponta, indicando a plenitude da vida. “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Sua prece de mãe alcança o mais íntimo de Deus. Assim confia Inácio, cavalgando pela estrada em busca de novos sonhos. Assim confiam os filhos e filhas, que cotidianamente colocam no colo de Maria, uma reza, um pranto, um pedido. Assim confia Francisco que, no primeiro dia de seu pontificado, aos pés da Virgem na Basílica de Santa Maria Maior, pediu forças para sua missão e repetidas vezes tem convidado à Igreja a implorar a intercessão de Nossa Senhora.
A caminho estamos. Com Inácio, com Nossa Senhora, com a humanidade inteira. A caminho estamos, no seguimento de Jesus. Ele, nosso Amado, dirige e cuida de nossos passos, como “tratava essa alma (Inácio), que ainda permanecia cega, embora com grandes desejos de servi-lo em tudo o que reconhecesse ser de sua vontade” (autobiografia, n.14). Não nos faltem desejo, coragem e ânimo para seguir o Caminho.
Texto Bíblico Jr 18, 1- 6