Pensar o Ser Humano 1: Charles Taylor
Elton Vitoriano Ribeiro, SJ. (Artigo Filosófico)
É muito comum nas aulas de filosofia citar importantes autores antigos. Essa estratégia clássica corre o risco de levar os alunos a não conhecerem autores contemporâneos e seus trabalhos. Na Antropologia Filosófica o risco é ficarmos com os clássicos e esquecermos de apresentar autores do nosso século que dão importantes contribuições para pensar o ser humano em suas vicissitudes históricas atuais. Esse olhar mais amplo é fundamental para que nossa leitura do tempo presente tenha relevâncias para os homens e mulheres de hoje. Sendo assim, pretendo apresentar quatro importantes autores (na minha leitura e ao longo de meus textos aqui no Palavra e Presença) que nos ajudam a pensar nosso existir humano a partir da filosofia contemporânea. Começarei com o filósofo canadense Charles Taylor e seu livro As Fontes do Self: A construção da identidade moderna (1989).
Neste importante trabalho, As Fontes do Self, Charles Taylor se propõe a narrar a história da construção da identidade moderna (self) na civilização ocidental. A articulação e a elaboração do conceito de self inicia-se com a construção narrativa da gênese do conceito de identidade moderna numa dupla perspectiva, histórica e sistemática. Esse método, provavelmente herança hegeliana, tem o objetivo de ser uma busca da autocompreensão do sujeito moderno. Nessa interpretação, as fontes da identidade moderna moldam toda a nossa compreensão filosófica da epistemologia, da ética, da política e da linguagem, ou seja, dos principais campos de reflexão das filosofias contemporâneas.
A estrutura do livro aponta para o resgate da compreensão da identidade já presente num trabalho anterior de Taylor sobre Hegel. Nesse trabalho, nosso autor propõe uma ontologia de enraizamento do indivíduo em um horizonte ético metaindividual, do qual dependem as ideias e os significados, e é pré-condição para o desenvolvimento da individualidade. Nas palavras do Taylor: “Quando concebemos um ser humano, não estamos nos referindo simplesmente a um organismo vivo, mas um ser capaz de pensar, sentir, decidir, emocionar-se, responder, estabelecer relações com outros; e tudo isso implica uma linguagem, um conjunto de maneiras relacionadas de experimentar o mundo, de interpretar seus sentimentos, de pensar a sua relação com outros, com o passado, com o futuro, com o absoluto e assim por diante. É o modo particular como ele situa a si mesmo dentro deste mundo cultural que chamamos de sua identidade. Ora, a linguagem e o conjunto relacionado de distinções subjacentes à experiência e à interpretação, contudo, é algo que só pode crescer e ser sustentado por uma comunidade. Neste sentido, o que somos como seres humanos, somos apenas numa comunidade cultural (TAYLOR, Hegel: Sistema, Método e Estrutura, 2014, p.415)”,
A citação anterior apresenta o pano de fundo a partir do qual Taylor articulará as Fontes do Self em três direções: os sentidos da interioridade humana, a afirmação da vida cotidiana e a expressividade da natureza como fonte moral interior. Nesse esforço filosófico, ele compreenderá o ser humano como um ser agente dotado de interioridade, liberdade e individualidade. Taylor faz algumas opções filosóficas. Ele rejeita as tendências modernas do naturalismo e cientificismo. Também argumenta contra a dominação positivista da filosofia analítica, resgatando o viés hermenêutico do filosofar. Finalmente, ele constrói uma interpretação que explicite nossa experiência como agentes morais, especialmente, na relação da identidade com o bem. Tais opções são importantes para, compreendendo o lugar do bem na nossa vida moral, investigar as demandas contemporâneas por justiça e beneficência, investigar nosso esforço por evitar a morte e o sofrimento, e investigar nossas reinvindicações por liberdade e autogoverno. Eis uma breve apresentação que, mais do que ser abrangente, quer dar um pequeno aperitivo do pensamento filosófico de Charles Taylor. Nosso próximo autor, que nos ajuda a aprofundar nossa compreensão do humano, será Paul Ricoeur. Até a próxima.
- O artigo que você leu foi elaborado pelo Pe. Elton Vitoriano Ribeiro, SJ, que é professor e pesquisador no departamento de Teologia, e reitor da FAJE.
- Postagem realizada em nosso site em 10/05/2024, por Fernando Santos @fernandotonheira (Agente Pastoral do Centro Loyola de Goiânia)