Centro Loyola de Fé

MÃOS DADAS – Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco

Também não cantarei o mundo futuro

Estou preso à vida e olho meus companheiros

Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças

Entre eles, considero a enorme realidade

O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história

Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela

Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida

Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins

O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes

A vida presente.

Comentário: Em tempos de Isolamento social, penso ser bastante oportuna a leitura de mais esse poema selecionados para esta primeira quinzena de Agosto:

No poema “Mãos dadas”, o poeta se recusa a voltar a um passado nostálgico e enganoso, bem como a vislumbrar um futuro utópico. Mas, de mãos dadas com todos/as, quer encarar a realidade, alimentar as esperanças e impulsionar o tempo presente.

Rosely Wanderley
Colaboradora deste site.

 

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