Centro Loyola de Fé

Inácio em conversas espirituais na universidade de Paris

Tempo dos estudos V (Autobiografia, 77)

Escrito por Pe. Felipe Soriano, SJ

Com os recursos que havia conseguido em Flandres, Inácio não precisava mais mendigar para se sustentar. Com mais tempo livre, passa a se dedicar mais intensamente que antes a conversações espirituais, dando Exercícios Espirituais a alguns amigos espanhóis nos meses de maio e junho de 1529. Esses primeiros “discípulos” eram três, a saber, João de Castro, natural de Burges, o talentoso Pedro de Peralta e o basco Amador Elduayen, todos matriculados na Universidade de Artes. Essa experiência com os Exercícios transformou fortemente suas vidas, chegando a ser chamados por loucos… por que deram tudo que tinham aos pobres, incluindo os livros.

A mudança foi tão radical que passaram a pedir esmolas por Paris e decidiram ir morar no hospital Saint Jacques, onde vivera antes Inácio – o peregrino – e de onde havia saído pelas razões já conhecidas. Contudo, nenhum deles seguiu Inácio de modo estável, cada um tomou o seu próprio caminho logo terminados os estudando. Essa “conversão repentina” acabou levantando grande alvoroço entre os estudantes, por serem, os dois primeiros, a saber, Castro e Peralta, pessoas notáveis e muito conhecidas. Sobre Castro, sabemos que, depois de deixar os estudos, entrou na Cartuxa. Já Pedro de Peralta, que era um dos muitos talentos do curso de artes, desejou ir à Terra Santa, mas acabará impedido vindo a ser o cónego da catedral de Toledo.

A fama de Castro e Peralta era tão grande entre os estudantes espanhóis que logo se levantaram em batalha contra os dois mestres, pois não era possível que por devaneios espirituais eles largassem carreira tão brilhante. E, de fato, não podendo vencer com muitas razões e argumentos, decidiram deixar o hospital e voltar à universidade, conduzidos por muitos alunos que, com armas nas mãos, os tiraram a força do hospital. O mesmo se passou com o basco Elduayen, natural de Pamplona, que recebeu grande reprovação de seu tutor Diogo de Gouveia. Essas tensões se deram no mês de setembro de 1529, período em que Inácio estava ausente de Paris.

O episódio da vida de Inácio que acabamos de ler nos oferece algumas pistas no tocante às regras de discernimento. A questão de fundo é saber e de forma segura, se a consolação que sentimos vem de Deus, ou melhor, se a moção é boa e digna de confiança. A conversão repentina não é o tema em questão, mas, sim, se jovens tão talentosos devem abandonar sem mais sua carreira intelectual. A semente da Palavra de Deus é sempre eficaz, mas é necessário preparar antes a terra… Quando a terra não está preparada, limpa dos apegos e afeições desordenadas, acontece o que acabamos de ouvir, isto é, trocamos os meios pelos fins.

Texto bíblico Mt 13, 18-23.

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