Centro Loyola de Fé

Ele via com os olhos interiores

“nem se lembrava totalmente das luzes espirituais que naqueles tempos Deus lhe imprimia na alma” (Autobiografia, n. 29).

Escrito por E. Jobson Ramos de Teixeira, SJ

A consigna “sentir e saborear as coisas internamente” é oferecida a todos nós por Santo Inácio, no entanto, deixar-se levar por essa orientação não é algo simples como parece. É um pedido ousado, que vem sempre acompanhado por muitas perguntas e poucas respostas. É assim que nasce uma dimensão nova em nosso interior; ver além daquilo que nos é permitido com os olhos.

O nosso interior é um mistério amplo, particular e em constante expansão. Um universo cheio de luzes e fantasmas desconhecidos, é justamente por isso que não podemos fazer o que queremos tão somente, mas o que nos foi destinado fazer a partir do arcabouço histórico que nos formou. A nossa vontade se inspira na passagem de Deus em nossas vidas.

Tirar as vendas, desvelar, é uma tarefa para todos os dias, que deve ser conquistada passo a passo e ser vivida não de maneira solitária, mas em companhia. A nossa postura, pede uma abertura de espírito para esse novo olhar, portanto, pousa sobre nós o papel de amigo silencioso, que desembaça os óculos interiores de quem amamos. Assim Deus faz conosco. Não precisa avisar, basta amar, acolher e acompanhar.

Um coração só pode enxergar as coisas depois que elas passam pelos sentidos. O corpo protege tão bem esse órgão para que nada chegue até ele sem um filtro. O que chega a ele, é, portanto, o que temos de mais valioso, e será visto de maneira muito especial. Esse caminho é espiritual, transcendente, formado por fios frágeis e sensíveis, por isso não podemos forçar e nem apressar nenhum processo.

Ao tocar algo com devoção e respeito, ao ouvir algo belo e profundo, ao sentir o gosto do que nos satisfaz, ao cheirar o que nos faz bem, nos permitimos levar para o nosso interior a essência de cada elemento, nada mais será necessário para.

Nossos corações são como caixas de lembranças, amores guardados para a posteridade, sentimentos que nem sabemos nomear. Ninguém pode mexer, nada pode apagar. Já foi amado e não pode ser esquecido. Assim são tantos os momentos, as histórias e os encontros, as pessoas e orações, as cores e as canções. Tudo isso tem lugar no nosso todo.

As palavras nem sempre são guardadas, as imagens por vezes destorcidas, a luz um tanto sombreada, mesmo assim, tudo segue vivo. Além disso, o tempo sempre encontrará uma maneira de dar lugar a novas experiências, que mais tarde farão parte desse santuário sagrado em nós.

Deus imprime em nós o desejo do conhecimento interior, cabe a nós dar os passos em direção a essa descoberta, tão cheia de surpresas. Ver o mundo desde o nosso interior é isso, fechar os olhos e se abrir em amor, para que assim, sem julgamentos nem escolhas, possamos ver com os óculos de Deus.

Textos bíblicos: Mt 6, 19-22.

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

X