Centro Loyola de Fé

Ansiedade: tempo tenso e estéril

“Deus nos dá tudo com abundância para que nos alegremos” (1tm 6,17)

Toda atividade humana perpassada por uma espiritualidade inspiradora deve ser motivada, antes de tudo, pela força interior do amor, que lhe dá uma qualidade, um sentido e um valor particulares. No entanto, há um defeito na atividade que costuma tirar-lhe a riqueza espiritual e convertê-la num profissionalismo, sem vida interior e sem criatividade. Trata-se da ansiedade.

Este nervosismo chamado ansiedade é uma espécie de pressa interior permanente. A pessoa sente uma necessidade imperativa de resolver rapidamente todos os problemas, como se todas as coisas fossem urgentes ou indispensáveis. É um problema relacionado com o tempo. É interessante observar o quanto a ditadura da velocidade e do “não tenho tempo a perder” retiram do cotidiano de nossas vidas uma das mais profundas maneiras de aproveitar, de fato, o tempo: a necessária paciência, para saborear os momentos, os encontros, os movimentos de busca intensa do prazer das coisas simples.

Pode-se quase que apalpar os sintomas da ansiedade. A pessoa quer terminar rapidamente tudo o que deve fazer, sem deixar nada pendente. Tem necessidade de antecipar tudo, tanto as alegrias como os sofrimentos. Então sua mente vai mais adiante que seu corpo. Quando está fazendo alguma coisa, está pensando no que terá de fazer depois. Priva-se de autênticas relações com as pessoas quando, ao ouvi-las, pensa no que deverá responder ou no que deverá fazer. Não se detém em nada, não está com todo o seu ser em nenhum trabalho e em nenhum encontro. Não pode desfrutar plenamente de nenhuma atividade, nem dar um sentido profundo ao que faz. Com o tempo, a pessoa sente que não está vivendo. Não habita em sua atividade, e é como se a vida fosse adiada sempre para o futuro.

A ansiedade é um veneno

A tensão psicológica termina afetando o corpo, que não pode resistir à pressa permanente do sistema nervoso. Assim, o trabalho que deveria alegrar, amadurecer e dar prazer à pessoa, torna-se o inimigo que a tortura e destrói. No fundo da ansiedade há um desejo de sermos deuses ilimitados, de fazermos tudo imediatamente, de experimentarmos tudo sem perdermos nada, de termos tudo sob controle, sem que nada escape ao que foi planejado. Isso nos faz sofrer muito quando aparecem imprevistos ou coisas que não estavam em nossos planos.

Sabemos também que, quando há ansiedade, há desordem. Como a mente está cheia de projetos e vive antecipando-se às coisas, nessa multidão de pensamentos reina uma grande confusão, e nada é bem-feito. Além disso, a ansiedade nos torna superficiais, porque nos leva a passar rapidamente de uma atividade a outra, sem nos aprofundarmos em nada. O coração ansioso não é capaz de deter-se em coisa alguma. Não suporta a quietude. E assim não pode apreciar o sabor mais agradável das coisas.

É bom envolver-nos no trabalho e tirar proveito dele

Mas, às vezes, o estado de ansiedade nos leva a sermos demasiadamente dependentes dos resultados do trabalho. Queremos ver rapidamente os frutos de nosso esforço. E assim, escapa-nos o prazer de podermos trabalhar com serenidade e paz. É necessário saber planejar e prevenir, mas sem pretender prever e controlar tudo. É uma grande sabedoria saber desfrutar das pequenas coisas que temos ou que podemos fazer agora, sem pensar nas que não temos. Na ansiedade por conseguir certas coisas e abarcar tudo, não nos detemos, custa-nos “notar e fazer pausa” (EE 62). Vivemos dependentes de lucros futuros e a vida vai se acabando sem ser vivida. Então o cotidiano deixa de ser fonte de satisfação e plenitude. Por isso, terminamos enfraquecendo-nos, enchendo-nos de angústias inúteis e esquecendo-nos que Deus é abundante. 

O “trabalhar descansadamente” dos Exercícios Espirituais não só tem o significado de experiência saudável, senão que se abre a uma experiência espiritual autêntica – experiência de descanso existencial – vivida na fé, mas profundamente humana. A familiaridade com Deus na relação com todas as coisas do cotidiano, no parecer de Inácio, não implica fadiga ou ansiedade, senão que é uma maneira de viver aquela paz e plenitude considerada como verdadeiro descanso. “Com esta divina consolação todos os trabalhos são prazer e todas as fadigas são descanso” (Carta de Santo Inácio a Teresa Rejadel).

A Palavra de Deus nos convida a pousar-nos amorosamente em cada coisa

Nos convida a pousar em cada pessoa, em cada atividade, em cada experiência. Se agíssemos assim, bastariam a brisa, a luz, uma flor, um sorriso, uma atividade qualquer, para sermos felizes. Deus espera que procuremos crescer com empenho, mas também com um coração sereno e sem angústias, com paciência e calma, sob seu olhar de amor. Ele sabe esperar as mudanças profundas que vão se verificando pouco a pouco.

A verdadeira paz é uma calma agradável que nos mantém fortes e saudáveis para desfrutarmos de tudo o que a vida nos oferece. É como levar dentro do coração um imenso lago de águas mansas e calmas em meio às atividades. Sem sucumbir à pressa e à agitação nervosa, encontraremos nosso centro, e a partir desse centro podemos administrar nosso cotidiano com calma e criatividade.

Texto Bíblico  Tg 5, 7-11 / Lc 12, 16-21 / Ecl 3, 17-28 / Ecl 11,7-11

 

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