Centro Loyola de Fé

Advento, a arte de viver despertos. (1º Domingo do Advento, 1°/12/2024))

“Ficai despertos e orai a todo momento…” (Lc 21,36)

Com a liturgia deste domingo inicia-se o “tempo do Advento” e um novo “ano litúrgico” (Ano C – centrado no evangelista Lucas).

Mais uma vez nos disponibilizamos, através da oração e da celebração litúrgica, a viver mais intensamente o Tempo do Advento e alargar nossas vidas para nele caber o mistério do Natal.

Advento nos revela a presença da eternidade no coração do tempo. O Eterno continua vindo, pelos caminhos mais imprevisíveis, iluminando a dura rotina e a sequência do cotidiano.

Advento é tempo de espera, de preparação e de chegada. Tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós: o sentido da esperança, a travessia, o encontro com o novo…, tempo que nos arranca de nossas rotinas e modos fechados de viver.

Viver o Advento é o grande evento que agita os corações, sacode as inteligências, inquieta as pessoas, move as estruturas… Toda a nossa vida se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente.

 

Nós cristãos, nas festas de Advento e Natal, celebramos o Deus que está em nós e conosco; Ele é a presença libertadora de tudo o que nos desumaniza. Celebramos a fé no Deus encarnado e fé na humanidade que nos faz presente a Deus. Celebramos o valor divino do humano e o valor humano do divino. Celebramos que Jesus, o Emanuel, é nosso salvador, nossa referência de vida; Ele veio nos ensinar a ser e viver como Ele. Caminhamos para o “Senhor que veio, que vem e que virá” à medida que mais nos adentramos ao fundo de nós mesmos e da realidade. Advento convida a deixar-nos “contaminar” pela realidade; e isso nos humaniza. O Evangelho deste domingo nos chama a estar alertas, a ter o coração livre de vícios, da libertinagem e das preocupações da vida; nos chama a “estar despertos e orando”, porque o Espírito se desvela em nossa atitude de fé e de esperança viva: ponto de encontro entre as promessas da fé e os sinais dos tempos presentes e vindouros.

A chegada de Deus se identifica com a chegada do “novo ser humano”, da nova humanidade, do novo mundo. Preparar a chegada do ser humano novo, isso é o Advento.

Diante do surgimento de um novo tempo e de um novo mundo requer “estar desperto” e “levantar a cabeça”; e a pessoa “desperta” é, justamente, aquela que vê a novidade em tudo, que tem a cabeça erguida e vislumbra novos horizontes. Ao contrário, quem permanece adormecido, move-se no terreno da rotina, com o coração atrofiado e a mente embotada pelos vícios e preocupações vazias.

Quem permanece adormecido, debate-se entre o passado que se foi e o futuro que nunca chega, escravo da ansiedade que o faz viver fora do presente.

O Advento vem nos dizer que não há outra coisa a fazer senão viver intensamente o momento presente. A plenitude está na consciência do instante presente, onde o “Filho do Homem” se revela.

No presente pleno, tudo tem sabor de novidade, a percepção da própria identidade se amplia sem limites, a consciência da comunhão com tudo e com todos se alarga…

 

Não é estranho que, ao longo dos Evangelhos, escutemos tantas vezes o chamado insistente: “vigiai”, “estai atentos à sua vinda”, “vivei despertos”. É a primeira atitude daquele que decide viver a vida como Jesus a viveu. Essa é a primeira atitude que devemos fortalecer para seguir seus passos.

E o que significa “viver despertos”?

Advento, portanto, é o momento de escutar o chamado que Jesus dirigido a todos: “levantai-vos”, animaivos uns aos outros”, “erguei a cabeça” com confiança. Deus é Salvação e já está em nós. Basta despertarnos e descobri-Lo. Esta descoberta nos descentra de nós mesmos, nos projeta para os outros, para o infinito e nos identifica com tudo e com todos.

O momento do encontro com “Aquele que vem” nos introduz na soleira de um futuro novo e carregado de esperança, aquela esperança que dá sentido às nossas atividades, liberta o coração da preocupação, expulsa toda ansiedade e impulsiona a buscar o Reino.

O fundamento da segurança e da serenidade reside na consciência de estar nas mãos providentes de Deus.

O fiel discípulo de Jesus, descobrindo-se amado e protegido pela ternura providente, se sente sempre a caminho, isto é, pronto a acolher cada fragmento de luz e de vida, que fala da presença e da passagem de Deus. O presente, tecido de partilha, solidariedade, misericórdia, mansidão, reveste o futuro de luz. A verdadeira segurança cresce no coração e na confiança de sermos protegidos por um Deus que sabe o que precisamos e nos aguarda. É esta a relação fundamental, fecunda e criativa, que possibilita o “êxodo” de nós mesmos e a acolhida do “advento” do Outro e dos outros.

 

Texto bíblicoLc. 21,25-28.34-36

 

Na oração: “Advento”: o Senhor vem… em sua direção! Ou melhor, já chegou! Basta despertar-se para descobri-Lo e descobrir-se n’Ele.

Por isso, o Advento deveria ser um tempo para retornar ao interior em meio à agitação, e olhar para dentro de si mesmo. Aí, no seu interior, há tanto de eterno. A eternidade dialoga com a gente, fala por dentro.

 

– Tome consciência do momento presente, deste único instante, aqui e agora, carregado de Presença e permaneça nele. Deus é Salvação que se dá a todos em cada instante.

 

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